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A requintada arte da semeadura direta

Quanto à produção vegetal, a seca e o calor são fatores limitantes. Como resultado das mudanças climáticas, situações climáticas extremas ocorrem cada vez com mais frequência. Para evitar consequências negativas na produtividade, métodos como a semeadura direta são empregados.

A opinião de Michael Horsch sobre a semeadura direta é clara: “Aqueles que praticam a semeadura direta como se fosse uma religião renunciam parte do lucro e podem até mesmo arruinar suas fazendas. Aqui na HORSCH, lidamos com a semeadura direta há 40 anos. Com alguns altos e baixos.” Quanto à semeadura direta, há algumas coisas a considerar. “Primeiro de tudo, a semeadura direta não é uma questão de tecnologia. O que é fundamental é uma boa estrutura do solo, uma rotação equilibrada, uma boa cobertura do solo e o tempo de semeadura .”
Na Europa, até bem pouco tempo, o principal argumento para o uso da semeadura direta era que elevava o teor de matéria orgânica no solo. Combinar a interrupção do cultivo e a cultura de plantas de cobertura, pode aumentar a parcela de matéria orgânica no solo. Ao olhar essa questão mais de perto, vemos as mais diferentes motivações para a semeadura direta ao redor do mundo. Nas regiões secas, o foco é claramente a economia de água. Nas regiões quentes, parcialmente subtropicais, o solo precisa de cobertura para evitar que a temperatura atinja uma faixa prejudicial para as plantas. As áreas com elevado índice pluviométrico precisam de semeadura direta e cobertura do solo especialmente para evitar a erosão. E não podemos esquecer dos mercados com rendimentos muito baixos, onde a economia da semeadura direta é um argumento forte.

 

Semeadura direta como método que economiza água

Por causa das mudanças climáticas e das ondas de calor mais extremas (35-40%) dos últimos anos, que ainda preocupam alguns produtores rurais, o tema semeadura direta e cultivo que economiza água tem sido considerado por um número cada vez maior de agricultores. Essa questão tem particular importância em partes da Hungria, Romênia e Bulgária, por exemplo. Por que a semeadura direta pode ser uma solução (pelo menos em parte)?
“Vamos considerar o exemplo dos países mencionados acima. As principais culturas são o milho, trigo e colza de inverno e girassóis. Depois da colza/girassol, quando ainda está muito seco, em setembro e outubro, seria apropriado semear trigo com o Avatar, após uma passagem ultra rasa com o Cultro. Depois do milho, normalmente também se pode semear trigo com uma semeadora de disco único. A menos que haja muita palha no campo. Neste caso, primeiro é necessário incorporar um pouco a palha, por exemplo, com uma grade de disco. Se você quer semear milho na primavera — como é feito, por exemplo, no Brasil — é preciso decidir caso a caso. Porque, se a temperatura do solo ainda estiver muito baixa, será um risco!”

Um solo coberto

Campos escuros não refletem a radiação solar, quer sejam cultivados ou não, assim como os campos cobertos. Eles absorvem os raios solares e aquecem mais rápido. Isso, claro, depende do tipo de solo. Assim, por exemplo, solos cuja tonalidade é marrom-escuro, quase pretos, aquecem consideravelmente mais rápido do que solos claros ou mesmo ligeiramente vermelhos. “Há razões para crermos que uma cobertura de solo composta por resíduos vegetais melhora a proteção do solo. Ela reduz a evaporação, aumenta a capacidade de retenção de água e diminui a erosão.”
Isso também é vantajoso para a germinação e o desenvolvimento das raízes, ou seja, uma cultura poderá se desenvolver melhor se não houver uma tendência de superaquecimento dos solos. “Isso pode ser uma linha tênue, principalmente na primavera. Há algumas regiões onde, nesse caso, o solo não alcança a temperatura mínima. O que é bom, por um lado, também pode ser uma desvantagem, por outro, se o solo não aquecer o suficiente.” Se o solo estiver quente demais, a germinação e o desenvolvimento das raízes da planta serão inviabilizados. Uma vez atingida a temperatura mínima, a planta para de crescer. Se a temperatura for excedida demais a ponto de degenerar a proteína, o desenvolvimento da planta está completamente comprometido. Esse é um grande desafio em regiões que sofrem com o calor extremo.
Outra vantagem de uma cobertura de solo é que ela retém a umidade que é transportada para a superfície na camada superior do solo. Dessa maneira, cria-se uma espécie de microclima, onde a umidade residual se acumula na camada superficial do solo e garante uma boa taxa de emergência. “Basta andar descalço por um campo de trigo cultivado sem resíduos na superfície, nos meses de verão. Mesmo em uma plantação densa, você queima os pés no solo de argila preta, ainda que o solo esteja coberto de plantas em crescimento. Isso mostra que existe uma conexão e que a plantação se manterá por mais tempo se houver resíduos na superfície.

Outro problema observado é que, se os restos culturais forem muito longos ou se a palha permanecer muito tempo no campo, entre outros fatores, os ratos se sentirão muito confortáveis. Vi isso recentemente na Romênia. Embora a plantação de colza parecesse bem, havia ninhos de rato espalhados por toda parte. O mesmo acontece com as lesmas. Se houver palha muito longa e umidade muito alta por muito tempo, as lesmas devorarão a colza, o trigo etc.”

 

Cultura de cobertura e semeadura direta

É sempre melhor fazer o cultivo de uma cultura de cobertura antes de semear diretamente. Um pré-requisito, porém, é que as culturas de cobertura se encaixem e que seja garantido um abastecimento de água suficiente.
Culturas de cobertura podem ajudar a aumentar o teor de matéria orgânica. Além disso, outro componente na rotação sempre pode servir de barreira fitossanitária entre as safras. “Na agricultura convencional, essa separação é feita por cultivo.”
Se o índice pluviométrico total for baixo, os agricultores, sem dúvida, se depararão com a questão, as culturas de cobertura não exigirão mais água. “É óbvio que isso é simplesmente impraticável em algumas regiões. Se não chove no período de entressafra no verão, as culturas de cobertura também não crescem e, portanto, não faz sentido cultivá-las.”
Como parar ativamente o crescimento de uma cultura de cobertura? Isso pode ser feito pelo congelamento, rolos de faca ou pelo uso de glifosato. “Quanto a isso, é preciso verificar qual método faz sentido em qual região. Na Europa, o uso do glifosato logo deixará de ser uma opção. Portanto, serão necessárias outras medidas para parar o crescimento.”
Outra pergunta sempre feita quando o assunto é semeadura direta é se ela e o cultivo são mutuamente excludentes. De forma alguma, muito pelo contrário. “Na minha opinião, a combinação de ambos pode ser a chave para o futuro. Por várias razões. Por um lado, vemos que a semeadura direta só representa grandes rendimentos se a estrutura do solo for muito boa. Como já mencionei, uma boa estrutura do solo pode ser alcançada, especialmente quando promovida pela cultura de cobertura. Porém, também há situações em que não há tempo para melhorar o solo com culturas de cobertura. Nesses casos, faz sentido, evidentemente, descompactar o solo para que as raízes possam crescer profundamente e alcançar a água no subsolo.
Notamos que mesmo em países como o Brasil, por exemplo, onde a semeadura direta é prática estabelecida há anos, o solo passa por uma descompactação mais profunda, de 30 a 40 cm, visto que, apesar da cultura de cobertura, há compactação.”
Mas, que rumo tomará o tema semeadura direta na Europa? A semeadura direta tem futuro por aqui? “Temos que agir com base na hipótese de que os extremos climáticos vão aumentar e que teremos anos quentes e secos com mais frequência. Creio que, com nosso tipo de clima, não veremos uma semeadura direta pura, ou seja, sem cultivo. Na minha opinião, as fazendas precisarão preparar os solos para que eles possam ser semeados diretamente em anos secos, se necessário. Ou seja, uma distribuição de palha sempre perfeita, restolho de cereais o mais curtos possível, evitar ou reduzir consideravelmente a compactação/passagem da esteira durante a colheita (por exemplo, pela colheita CTF).”

O tema abordado aqui foi o uso geral da semeadura direta. Na próxima edição do terraHORSCH, explicaremos em detalhes onde cada método de semeadura se encaixa melhor (discos ou hastes), como devem ser utilizados e qual trabalho preparatório, se necessário, é aceitável.
Além disso, daremos dicas sobre a relação C:N dos resíduos, comprimento dos restolhos e como manuseá-los.