Home » Edição 9-2022 » Centro de treinamento FITZ » Inflação: rumo a um novo modelo agrícola?

Inflação: rumo a um novo modelo agrícola?

A situação é esta: oito bilhões de pessoas não podem ser alimentadas com as atuais condições de produção. Os participantes envolvidos precisam estar atentos aos desafios que precisarão enfrentar. Há grandes oportunidades para eles.

 

Durante o Dia de Campo HORSCH 2022 na França, Philippe Dessertine, economista e membro do Conselho Superior de Finanças Públicas, explicou que desde janeiro de 2020, as crises de saúde, geopolíticas e econômicas mudaram drasticamente a percepção sobre a agricultura. Principalmente o setor financeiro entendeu que sem a agricultura que alimenta a população não haverá mais atividade econômica! Portanto, as partes interessadas investem no setor agrícola, e as suas capacidades são significativamente mais altas que as do orçamento do CAP.

Os mecanismos inflacionários fazem parte das dificuldades que precisam ser superadas — nos países industrializados, mas principalmente nos países mais desfavorecidos, onde as tensões referentes ao abastecimento de alimentos são motivos da instabilidade. É por isso que Philippe Dessertine enfatizou: “Temos que transmitir à geração mais jovem a mensagem de que a agricultura é estrategicamente importante.”

Desacelerar a inflação

O economista destacou que a inflação é o resultado de um desequilíbrio entre dinheiro e riqueza. O excesso de dívidas relativas à riqueza conquistada é o criadouro da inflação. Essa situação já existia antes da pandemia de Covid-19 e foi até intensificada pelo aumento do caixa disponível. As taxas de juros e os baixos custos de energia desmentiram esse fenômeno. A crise energética e o conflito na Ucrânia foram o gatilho.   
Um dos temores alimentados pela inflação é a espiral preço/salário: as empresas aumentam os salários como reação ao aumento dos preços. Os custos de mão de obra também aumentam, o que também afeta os preços. “A inflação é uma corrida sem vencedor”, alertou Philippe Dessertine. No entanto, a situação pode ser contornada se todas as partes interessadas se comportarem da mesma forma: não reter o caixa e reduzir os prazos de pagamentos. O dinheiro perde em valor, mas as consequências são as mesmas para todos. Para vencer, temos que continuar criando riqueza — não mudar para moedas seguras como ouro, joias ou terras — e continuar investindo.

Mudança do valor agregado

Perante os desafios atuais — climáticos e demográficos — o setor agrícola tem uma oportunidade única: um valor agregado baseado no aspecto da sustentabilidade da produção e na capacidade de reduzir a emissão de CO2. O que conta é menos o resultado financeiro de uma empresa, e mais o efeito (no ambiente, na humanidade, na sociedade…). É o caso da fabricante Tesla, cujo ranking está significativamente acima dos concorrentes que produzem mais carros. Os investidores precisam medir o valor recém-criado. Isso pode ser feito administrando os dados (carbono armazenado, indicadores agroecológicos, rendimentos…). Philippe Dessertine comparou essa mudança do modelo econômico com a transição do cavalo para o carro. E, no caso dessa transição, o valor agregado recai principalmente no fator humano: sem produtores não haverá agricultura.

Rumo a um novo equilíbrio

Christian Huyghe, diretor científico do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola, Nutricional e Ambiental, descreveu os fundamentos de um novo modelo agrícola. “A cada reviravolta, é preciso concordar em relação aos objetivos que devem ser alcançados”, destacou. Um dos problemas é a segurança dos alimentos globais, no contexto de uma urbanização crescente. Isso se traduz em grandes desafios logísticos para a produção de alimentos, com os quais os países em desenvolvimento têm cada vez mais dificuldade de lidar. “Para subsistir, as pessoas levam os animais com elas para as cidades. Isso aumenta os riscos à saúde”, explicou Christian Huyghe. Então, é levantada a questão da mudança alimentar e da análise da necessidade real de proteínas. Uma reorganização da cadeia alimentar e novos balanceamentos são essenciais. Nesse aspecto, a redução exigida da emissão de gases e do efeito estufa deve ser levada em consideração.